Este não é um texto técnico ou algo que seja realmente novo. A intenção não é essa. Conhecimento técnico já é ensinado em vários cursos, livros e artigos na Internet. Então, não espere por isso deste texto. Contudo, se você quiser ler uma história que pode ser interessante e que possa te tirar algum peso de suas costas, aliviar alguma dor no peito e te fazer pensar: "Puxa, me identifico com alguns pontos. Sinto a sua dor.", continue a leitura.
Me formei em Engenharia da Computação. Ok, nada a ver com Design. Engenharia de um lado (exatas) e Design do outro (humanas). Por que me graduei em computação? Pelo fato de eu gostar de ficar fuçando o PC do meu pai, um IBM Aptiva 486 DX4. Gostava de instalar e desinstalar programas e jogos, abrir, desmontar e remontar as peças. Eu achava que, misteriosamente, tinha uma afinidade com máquinas, aí pensei "É isso! Quero fazer faculdade de computação!". Pronto! Tão certo, tão direto. Só que não (#SQN).
Eu não era tão inteligente assim para passar no vestibular saindo direto do colégio, até tinha notas boas em exatas, mas não o suficiente para me destacar dentre os milhares de candidatos às vagas, aí fazer cursinho foi praticamente um pré-requisito para mim. Apesar de ter sido aprovado na UFSCar, fiquei na lista de espera em uma posição que eu achava que nem seria chamado para a matrícula. Por sorte, outras pessoas foram passando em outras instituições e a fila foi andando até chegar a minha vez.
Quando iniciei o curso, já me deparei com a primeira frustração. Eu era horrível nas matérias específicas de computação. Escolhi fazer um curso em computação onde tirava notas medianas e abaixo da média nas matérias específicas. Munido da frustração, eu quis desistir. "Desistir para fazer o quê?", perguntaram meus pais. "Quero desenhar! Ser desenhista!", respondi. E, claro, óbvio que eles não permitiram que eu saísse de uma universidade federal, com um curso que poderia me levar a uma carreira promissora, para fazer uns rabiscos e com um futuro duvidoso. Então, Bruno de 19 anos continua no curso.
E quer saber mesmo o que me ajudou a continuar em um curso que era uma história de amor e ódio? Que fazia me sentir burro todo semestre? Continue lendo. Prometo que logo mais chego no Design.
No segundo ano entrei na empresa júnior do departamento de computação, a CATI Jr. Lá, descobri que eu poderia atuar com Computação mesmo sem precisar programar ou ser muito técnico. Atuei como Analista de Projetos. Foi uma experiência que me abriu os horizontes e me motivou a continuar os estudos.
Lição aprendida: Não desista de algo só porque você se frustrou no primeiro momento. Busque expandir seus horizontes nisso. Explore as possibilidades antes de decidir largar o que estava fazendo.
Uhul! 2010 iniciei estágio em uma startup de meios de pagamentos móveis. Depois de formado fui efetivado, atuando como Analista de Quality Assurance. Ué? Mas você não estava em Projetos antes? Estava. Contudo, vi em Quality Assurance (QA) um universo muito interessante. Era necessário entender de negócios e tecnologia, saber falar a linguagem destes dois mundos e ser a ponte entre eles para que o produto fosse entregue ao cliente com a menor quantidade de bugs e erros de sistema e, claro, evitar prejuízo financeiro.
Depois conheci um negócio chamado "programa de trainee". Era o que brilhava os olhos de todo recém-formado, acho que ainda deve brilhar. Me inscrevi em vários, participei dos processos e … Fui reprovado em todos! Que beleza ein. Lembro até hoje da frustração que tive olhando a maioria dos meus amigos da faculdade sendo aprovados e eu não.
Passada a desilusão, ingressei no mundo da consultoria como Analista de Sistemas. Parecia promissor. Trabalhar em uma multinacional, experiências incríveis em vários projetos em vários clientes... #SQN … Minha gerência não tinha nenhum projeto externo em vista e fiquei em projetos internos da própria consultoria. Mais tarde, houve uma reestruturação do quadro de colaboradores e fui incluído neste pacote. BOOM! Jovem recém-formado desempregado. Cadê a carreira promissora que me falaram lá atrás quando entrei na faculdade?
Em meados de 2012 comecei a ter os primeiros contatos com Design, ainda que fosse algo muito mais voltado para Visual. Só que não foi no trabalho, foi por meio de cursos livres. E, em 2013, ainda mais atraído pelo Design e Artes Visuais, convenci meus pais, agora com melhores argumentos e encerrei minha jornada em uma empresa e na carreira de TI para me dedicar aos estudos e trabalhos freelancer em Artes Visuais.
Fiquei 2 anos nessa jornada entre estudo e freelance em Concept Design e Visual Development. Daí algo começou a me incomodar: percebi que gostava disso mais como um hobby do que como um trabalho. Mudei de carreira, mas descobri que não era bem isso. Errei. E agora? O que eu faço?
Já era 2015. Voltei para o mercado de TI com a indicação de um amigo. Agora como Analista de Negócios e Arquiteto de Informação. Opa! Arquiteto de Informação? Eu sabia o que era isso? Óbvio que não. Eu nem sabia o que era UX ou que uma coisa tinha a ver com a outra. Só fui descobrir que o que estava fazendo tinha a ver com isso tudo quando uma amiga que trabalhava em outro time na empresa me perguntou o que eu fazia lá. Contei que conversava com cliente, desenhava protótipo, testava, colhia feedback e iterava no produto. Aí ela me perguntou "Você trabalha com UX?". Fiz aquela cara de "O quê?". E foi aí que descobri que já estava fazendo algo relacionado a Design de Experiência do Usuário e nem sabia disso. Fui atrás para saber mais, peguei o contato do noivo dela, que já era UX Designer, e troquei e-mails, fiz vários cursos, workshops, bootcamps e uma pós em Design de Serviço.
Participei de diversos processos de vagas em UX. Voltei ao mundo da consultoria, agora oficialmente como UX/UI Designer. E sim, agora sim, atuando em diversos projetos de vários clientes. Foi uma experiência muito rica.
Passei por diversas empresas, sempre atuando na veia do Design, mas já te digo que nem sempre foi um mar de rosas. Talvez você já tenha ouvido falar sobre a baixa maturidade de Design de algumas empresas e frustrações que todo designer passa nelas e posso dizer que passei por todas, desde times trabalhando em silos, carteiradas, gestores e clientes que não acreditavam no seu trabalho e no Design, microgerenciamento dos designers até dispensas.
Em meio a essa época, já em 2020, eu estava perdendo a fé em UX, me parecia uma simples ilusão e comecei a me interessar por uma outra área: Dados. Fiz diversos cursos especializantes desde Matemática Aplicada, Ciência de Dados, Aprendizado de Máquina e Engenharia de Dados, foram muitas horas de estudos. Decidi que queria migrar para essa área, participei de diversos processos, reprovei na maioria até conseguir ser aprovado em um.
Já atuando como Analista de Dados, certo dia, devido à minha experiência em Design, me pediram para realizar uma pesquisa com clientes e foi aí que eu me reencontrei. Percebi que eu gostava muito mais de trabalhar com Design e todos os seus métodos e processos do que com Dados, que hoje vejo mais como uma ferramenta de Design, e decidi voltar para a área.
Hoje, depois de ter trilhado caminhos tortuosos por mais de 10 anos e me perdido nessa jornada, sinto que me encontrei (e reencontrei) no Design. Não sei em qual momento da sua vida ou carreira está, mas se tem algo que eu gostaria que você levasse dessa história toda é que não importa a sua origem ou o que os outros digam, não importa se você está em dúvida do que fazer com a sua vida, se acha que escolheu o curso ou a carreira errada, o importante é continuar experimentando de tudo. Em vários momentos a frustração vai chegar e parecer que não vai largar do seu pé, mas você precisa continuar seguindo em frente, pois uma hora é ela que vai se cansar de se agarrar em você. Não desista. O caminho não é uma reta é um emaranhado de coisas que precisamos ter paciência e perseverança para desembaraçar. Não precisa ter pressa.
Muito obrigado por chegar até aqui!
Grande abraço!
Sou um engenheiro da computação especializado em Design de Experiência e Ciência de Dados. Trabalhei para empresas de vários tamanhos, desde startups a multinacionais. Adoro escrever e compartilhar conhecimento com o mundo!