Um novo ano começa e este será o terceiro desde os inícios das divagações sobre o “novo normal”, que de normal não tem nada, mas de novo tem tudo. Todas nossas relações mudaram ao longo desse tempo, desde a rotina do pagamento de um boleto, até aprender a lidar com a ausência de tantas pessoas que amamos e que perdemos para uma doença que, em muitos casos, poderia ter sido evitada.
Vimos o despertar de muitos sentimentos com os quais nossa sociedade não tem o hábito de falar sobre. Dentre eles, o medo. Temos medo do vírus, medo de gente e medo do futuro. Temos medo de buscar ajuda. Medo de admitir que precisamos de ajuda, de que precisamos de terapias (spoiler: todos nós precisamos!). E como faremos para sobreviver a todas essas angústias das quais nunca tivemos alerta? Nós não sabemos.
Quando começamos a estudar as tantas disciplinas da experiência do usuário, o que mais vemos são frameworks. Tantos modelos, tantos nomes, matrizes, que numa sopa de letrinhas os usamos nas mais diversas situações para obter dados, insights, resultados. Matriz SWOT, 5 forças de Porter, Customer Journey Maps, Mapa de empatia, sprint disso, história daquilo. Mas não temos nenhum framework para ajudar a sobrevivência da pandemia. Vi uma matriz CSD ai? A única certeza que temos é que tudo vai mudar. Nossas suposições são tão diferentes que nos deixam com inúmeras dúvidas.
Enquanto isso, vemos tantos times que desenvolvem tantos planos de expansão, projetos minuciosos, estratégias de growth e mais growth, mas se esquecem que toda empresa é feita de pessoas. Usabilidade é feita para pessoas. Pesquisas traduzem histórias de pessoas.
Construímos tantos arquétipos, tantas personas, tantos mapas de oportunidades, mas às vezes deixamos de olhar pras pessoas que estão no zoom ao lado. O que elas buscam? Do que precisam? Podemos fazer algo para que o dia delas seja melhor?
Daí vem a pergunta de um milhão de dólares: quantos colegas de equipe, da empresa, quantas pessoas ao seu redor estão com depressão? Ou com síndrome do pânico? E com crises de ansiedade? Você saberia dizer? Somente durante a pandemia, o número de jovens com ansiedade e depressão dobrou.
Quero aqui propor um exercício de retornarmos às nossas necessidades.
Muitas pessoas das áreas de administração, marketing, psicologia já estudaram sobre a famosa pirâmide de Maslow, que foi um psicólogo americano que lá na década de 40, estando numa área de conflitos entre as comunidades negra e judaica, disse que reunir grupos de pessoas era uma das formas de expor as áreas de conflito. Na minha especialização em psicologia positiva, voltei não somente a estudar Maslow, mas a realmente ouvir e entender melhor suas perspectivas.
Para elaborar melhor suas pesquisas, ele criou o que conhecemos como "A teoria da motivação humana", que deu origem à “hierarquia de necessidades de Maslow”. Nela, ele dividiu as necessidades humanas das mais básicas às mais elaboradas em 5 degraus.
Na base dessa pirâmide ficam as necessidades primárias (fisiológicas e segurança), e mais no alto ficam as secundárias (sociais, estima e autorrealização). De acordo com a Wikipedia: “Para ele, as necessidades fisiológicas precisam ser saciadas para que se precise saciar as necessidades de segurança. Estas, se saciadas, abrem campo para as necessidades sociais, que se saciadas, abrem espaço para as necessidades de auto-estima. Se uma destas necessidades não está saciada, há a incongruência. Quando todas estiverem de acordo, abre-se espaço para a auto-realização, que é um aspecto de felicidade do indivíduo”
Não vou me alongar aqui, pois acredito que muitas pessoas já ouviram sobre. Mas nos falta nos atentar a isso. Cada um de nós está num momento dessa pirâmide e o que nos falta, de verdade, é entender que somos diferentes. Vivemos momentos diferentes. Temos necessidades diferentes. E essas diferenças é o que nos traz mais humanidade. Somos pluralidade, diversidade e pessoas.
E a nossa diversidade é nossa maior beleza, mas às vezes é o que mais nos causa percalços na pirâmide de Maslow. Quantas vezes passamos por problemas de segurança física e psicológica? Quantas vezes passamos por tantos obstáculos de quem quer puxar nossos tapetes? Quantos sapos temos que engolir para mantermos nossos cargos? Quantas vezes passamos por assédio moral ou sexual neste ano?
Nesse 2022 desejo que você se torne uma pessoa melhor. Que encoraje quem está à sua volta a ser uma pessoa melhor.
Que você abrace o trabalho árduo e nada glamouroso que é cuidar das pessoas ao seu redor. Vamos juntes? <3
Edi Fortini é comunicóloga e bibliotecária de formação e pós graduanda em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização pela PUCRS. Dentre outras tantas coisas, é também UX Researcher, fotógrafa, faixa preta em Kung Fu, mediadora de leituras e mãe de pets. Planejando sua migração de área para UX, Edi soube desde o início de seus estudos em UX que queria trabalhar com pesquisa de experiência. Adora conversar sobre música, filmes, livros, a vida, o universo e tudo mais.