Vamos começar esse artigo com um exercício, na empresa em que você trabalha, quantas mulheres estão em cargos de liderança? Dessas mulheres, quantas são negras ou indígenas? Quantas são LGBTQIA+? Quantas são psicodiversas? Quantas delas possuem uma deficiência? Eu imagino que conforme as perguntas foram mudando o número foi ficando menor, ou chegou em zero certo? Esses números mostram que, apesar das grandes evoluções no mercado de trabalho, ainda há muito a se fazer.
Segundo dados do IBGE: "Em 2019, as mulheres ocupavam 37,4% dos cargos gerenciais e recebiam apenas 77,7% do rendimento dos homens. Entretanto, a pesquisa anterior, publicada em 2019 e referente a dados do ano de 2016, mostrava mulheres em 39,1% desses cargos."
(fonte: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf). É importante ressaltar que, apesar do aumento de mulheres nos cargos de liderança, a diferença salarial ainda existe, basta comparar com os salários recebidos por homens que exercem a mesma função. E esses números não necessariamente contemplam mulheres negras, indígenas, LGBTQIA+ e etc.
Quando falamos da área de design o cenário não é diferente, o Panorama UX 2020 (https://panoramaux.com.br/) traz dados bem interessantes, e preocupantes sobre o cenário da área de design de produtos digitais:
Os números mostram que ainda temos um cenário que precisa de evolução, além disso, vou compartilhar um pouco da minha experiência com vocês. Eu comecei na carreira em 2016, quando ainda não falávamos muito de UX, UI e produtos digitais, ao menos não aqui no Brasil, alguns de nós éramos o famoso “web designer”, de lá pra cá muita coisa mudou, novas carreiras foram surgindo e o mercado foi evoluindo. E em todos esses anos atuando na área, trabalhei apenas com uma líder mulher e um líder homossexual. Nenhum líder de origem afrobrasileira, indígena ou qualquer outro grupo diverso que conhecemos. Claro que dos muitos líderes que tive, posso dizer que aprendi um pouco com cada um deles e tive experiências positivas e também negativas.
Esses poucos números que compartilhei com vocês, sobre minha vivência, escancaram algo ainda muito comum no mercado, onde os cargos de liderança se limitam a um padrão composto por homens, brancos e heterossexuais. Isso não prova que eles não são dignos de tais posições, mas demonstra que o mercado ainda não enxerga, capacita e aloca grupos diversos nessas cadeiras.
Sabendo disso, é importante entendermos também um déficit, não só do mercado de produto e tecnologia, mas um déficit da nossa sociedade, onde esses grupos e pessoas muitas vezes não têm acesso a educação direcionada, capacitação, sendo vítimas de preconceitos e marginalização.
As empresas podem começar mudando isso através de iniciativas que vão além da criação de vagas afirmativas, mas que coloquem esses grupos em cadeiras de lideranças, programas de capacitação, reconhecimento.
Tá, mas por que isso é importante para a área de design de produtos de uma empresa? Quando falamos de design, falamos de pessoas, não só os usuários de um produto, mas também as pessoas envolvidas na construção deste produto. Construir uma cultura de produto, que olha para as pessoas e suas particularidades, pode gerar soluções mais direcionadas para os usuários, através de empatia e representatividade, isto também é benéfico para a empresa. A construção dessas culturas deve começar de cima para baixo, onde os líderes e representantes de uma empresa ou iniciativa devem dar o exemplo, não só na estruturação de times, mas através do lançamento desse olhar sobre a companhia e cultura de produto.
Segundo uma pesquisa realizada pela Forbes 85% das empresas globais concordaram que a diversidade é crucial para promover a inovação no trabalho, pois cria um ambiente que mistura conhecimentos e perspectivas únicas. Outro ponto interessante é o abordado pela Mckinsey&Company, em um artigo voltado para a diversidade e inclusão nas empresas: “Líderes em diversidade trazem novas perspectivas sobre como elaborar uma estratégia eficaz utilizando as histórias das melhores empresas globais.[...]Existem hipóteses claras e convincentes sobre os motivos de essa relação persistir – entre elas, melhor acesso a talentos, tomada de decisões aprimorada, profundidade dos insights do consumidor, fortalecimento do engajamento dos funcionários e licença para operar.”
Líderes devem ser figuras inspiradoras para o seu time, identificar-se com essas figuras, seja através de gênero, orientação sexual, características psicodiversas e etc, faz com que as pessoas se sintam representadas, inspiradas e enxergando maiores possibilidades para seu desenvolvimento, profissional e pessoal. Esses sentimentos são as fundações para construirmos times mais engajados e motivados.
Mulher, lésbica, nerd, que ama cinema. Descobri recentemente que possuo TDAH e busco ajudar pessoas, com a mesma condição que eu, no mercado de trabalho, mas não só pessoas nessa condição, eu enxergo a liderança como uma forma excelente de inspirar, apoiar e motivar, com empatia. Sou designer há 8 anos e estou sempre buscando melhorar, evoluir e adquirir conhecimento.