Design 2022
Nelio Lino Ramos Rodrigues
Especialista em UX na Brasilseg - Projeto Broto
Curioso, questionador, criativo

Não é sobre você, “designer”

Escute este artigo

Fiquei pensando em como começar esse artigo, e talvez o mais obvio seja partir do termo “designer”. Esse ponto é importante para delimitar um pouco a reflexão, até porque se você pesquisou o termo designer no Google ou a #designer no Instagram vai encontrar com grande relevância até “designer de sobrancelhas”. Que fique claro que não usei esse exemplo de forma pejorativa, todo profissional tem o seu devido valor e respeito.

Na Wikipédia encontramos a definição:

“O designer [dizáiner] ou projetista é um profissional que desempenha atividade especializada de caráter técnico-científico, criativo e artístico para elaboração de projetos de design passíveis de serialização ou industrialização e que atendam, tanto no aspecto de uso quanto no aspecto de percepção, as necessidades materiais e de informação visual.”

Essa definição não está adaptada para o nosso contexto, o profissional que trabalha com projetos digitais. Em uma adaptação precisaríamos eliminar ou discutir o termo artístico. Nós não fazemos arte, que é passível de interpretação. Nós, designers de meios digitais, precisamos resolver problemas (e trazer resultados) de forma objetiva, sem subjetividade. Caso tenha curiosidade sobre essa discussão, recomendo pesquisar artigos sobre arte vs design pela web afora.

Definição mais objetiva:

“Designer ('a') - o indivíduo que irá realizar um processo de design de modo a alcançar um resultado (design)”.

Essa definição ainda é restrita na minha opinião. Em trecho do artigo “Redesigning design(ers)” de Jaakko Tammela ele ilustra bem o meu ponto de vista sobre a definição:

“Ser designer vai além do treinamento e da qualificação técnica. Está relacionado a uma forma de agir, pensar e ver o mundo. É tão (ou mais) relacionado às habilidades interpessoais, ou melhor, o equilíbrio de ambas.”

Com quase 2 décadas trabalhando no meio digital, questiono o quanto nós “designers” temos nesse termo algo de egocêntrico, de individualismo, ou de até uma certa soberba. Talvez isso esteja relacionado a questão do “ser criativo”, “artista”, “inventivo”, “inovador” ou até mesmo com a nossa vontade de resolver todos os problemas do mundo.

A reflexão é: não é sobre você, designer, é sobre o outro. É sobre como você:

  • Deve respeitar o usuário (ou cliente, etc.). Sim, não é difícil ouvir piadas depreciativas sobre quem vai usar a solução, projeto ou serviço. Ainda que em um momento de descontração, não faça. Isso impacta as pessoas próximas de uma forma negativa, além de menosprezar o outro.
  • Precisa deixar o ego de lado, a única verdade e o orgulho (ou talvez uma certa arrogância disfarçada) ao projetar algo sozinho. Quanto mais você se desapegar do seu conceito inicial, pesquisar e ouvir as opiniões de todos envolvidos, e sobretudo, das pessoas que serão impactados com as suas decisões, melhor. Opiniões e cenários diferentes (e divergentes) sobre determinada questão te levarão a errar menos. Sim, você vai errar, e só quem erra apreende, ajusta e evolui como profissional e indivíduo.
  • Resolve um problema sem criar outros problemas. Sim, você precisa ter uma visão mais ampla sobre a sua responsabilidade individual. Questões como acessibilidade, inclusão, igualdade de gêneros, meio ambiente, política, ansiedade, entre muitas outras, não podem ser negligenciadas por você. Isso impacta a sociedade e o planeta indiretamente; e você vai querer deitar à noite no travesseiro com a consciência tranquila em relação ao que estava ao seu alcance e foi jeito.
  • Você deixa um pouco de lado a intuição, o prazo apertado, ou o motivo que for e vai atrás de dados e informações para embasar as suas decisões ao máximo possível. Sim, testes, pesquisas e métricas relevam as necessidades do outro. Não há verdade absoluta, nem mesmo a sua.
  • Entende qual é o problema que precisa ser resolvido. Não é sobre você fazer só o que te pedem (ou o mais fácil e rápido). Ao projetar algo questione e argumente o seu ponto de vista com o outro. Como você vai resolvê-lo da melhor forma possível sem impactar negativamente alguém com suas decisões? Questione o velho clichê “manda quem pode, obedece quem tem juízo.”
  • Compartilha conhecimento e treina pessoas, ainda mais se você ocupar um cargo de liderança. Sim, nossa área está aquecida, e ajudar as pessoas iniciantes compartilhando experiências, conhecimento e sobretudo boas práticas é essencial. É sobre contribuir para que todos evoluam juntos.
  • É empático e transparente no dia a dia. Estudos apontam que a ansiedade é o maior problema nas doenças mentais no Brasil. Mesmo retomando a rotina de trabalho no pós-pandemia, precisamos estar conscientes em relação aos sentimentos e necessidades do outro. Talvez você consiga fazer alguma concessão com o desenvolvedor, ajuste um prazo com a liderança, reveja o roadmap com a equipe, enfim, todos temos nossas limitações momentâneas, entenda a do outro e alinhe com a sua, é o famoso ganha x ganha.
  • Entende e aceita a visão do outro. Estamos vivendo tempos de polarização de opiniões, principalmente em política. Discussão a parte, você precisa, como indivíduo (mais do que como “designer”) estar aberto ao diálogo, a troca saudável de ideias e temas, ainda que no final, você não concorde. Concordar é diferente de aceitar a opinião do outro, lembre-se.
  • Usa a honestidade e transparência no seu cotidiano. Acredito que temos uma essência e lidamos com questões éticas e de caráter quase que de forma única. Você é mais do que o trabalho ou carreira profissional. Faça as escolhas na sua vida sempre pautado em como elas vão afetar os outros.
  • Tem a humildade em assumir seus erros. Uma dica clichê, sim, não precisamos e devemos saber de tudo. Falar que não sabe de algo e vai procurar se informar; não tem certeza de algo, mas está aberto a opiniões, e que fez algo e errou, são atitudes que fazem o outro se conectar mais com você, ninguém é perfeito.

Eu poderia continuar enumerando muitas questões, profissionais ou pessoais, mas, não é sobre o texto e reflexão do artigo, é sobre como você assimilou tudo isso.

Com reflexões e questionamentos frequentes evoluímos. Precisamos evitar (as vezes sem perceber) o piloto automático. A pandemia nos tirou do eixo principal, e agora vamos nos reorganizar, com aprendizados e mudanças, para melhor.

O que achou? Comente, acrescente, questione, compartilhe. Longe de algo ser a única verdade.

“Eu prefiro ter perguntas que não podem ser respondidas a ter respostas que não podem ser questionadas.”
Richard Feynman

Obrigado pela leitura.  ; )

Nelio Lino Ramos Rodrigues

"Pós-graduado em Administração e Gestão em Serviços pela USP - Universidade de São Paulo e Bacharel em Propaganda e Marketing. Atuo na área de serviços (agro, bancos, seguradoras e meios de pagamento) há mais de 20 anos. Pesquiso, entendo e alinho as necessidades das pessoas de forma criativa, inovadora e efetiva em projetos digitais. Esse é o meu papel, independente do meu cargo. Adoro fotografia, artes, cinema, tecnologia e inovação, incluindo as pedaladas, leituras e conversas aleatórias, que não podem faltar."

Deploy.me
Desenvolva sua carreira em UX Design, Produto e Dados com bootcamps imersivos, práticos e de curta duração com facilitadores das principais startups do Brasil e do mundo. How. Skills, not degrees.
15%OFF código:
DESIGN2021
A saúde mental da Mulher-Maravilha moderna e a jornada pelo autoconhecimento
Mariana Ozaki
UX Writing: a construção do texto e a variação linguística do Brasil
Jeane Bispo
Nada jamais é influenciado (ou influencia) em apenas uma direção
Luciana Terceiro
100 UX Designers iniciantes para chamar para entrevistas em 2022
Leandro Borges de Rezende
Meu primeiro hackathon como UX Designer
Gabriella Chagas
O amadurecimento do UX tem que ir além dos frameworks
Beatriz Figueiredo
Liderança e Diversidade em Design de Produtos
Sara Bernardino
Confissões de um design manager na pandemia
Eduardo Insaurriaga
Uma conexão UX & Produto
Rafael Brandão
Precisamos temer as consequências de tudo que projetamos
Suzi Sarmento
Dias Passados de um Futuro Possível
Leonardo Lohmann
Maturidade no Design
Guilherme Zaia Lorenz
Do zero a uma carreira internacional como designer
Andressa Belém
Ser designer é perder o equilíbrio momentaneamente
Gessé Celestino
Ainda vale a pena fazer análise heurística?
Elizete Ignácio
Por que você trabalha no RH?
Mikaela Alencar
Existe esse tal de “glamour” em ser líder em Design?
Vanessa Serradas
Estética, Significação e Experiência
Fernando Paravela
Design, desesperança e regeneração
Viviane Tavares
Vamos antropofatizar
Guilhermo Reis
Que tipo de relações estamos projetando?
Luciana Martins
Será que esquecemos de fazer perguntas?
Apparicio Bueno Ferreira Junior
Se você quer migrar para UX Writing, venha por aqui
Ligia Helena
Desafios para elevar a maturidade de design nas empresas
Larissa Ferreira Cruz
Precisamos parar de subestimar o Visual Design
Victor Augusto
O futuro do product design é o service design
Vanessa Pedra
Futures Thinking: a metodologia dos inquietos
Yasmin Conolly
O principal ato de design de 2022
Alessandra Nahra
Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve
Tereza Alux
"Não reparem na bagunça": A quem estamos cativando?
Isabela Sousa Guimarães
UX da Questão: a linguagem neutra como pauta de acessibilidade e inclusão
Allen Saoirse Ximenes
Design Ontológico - Projetando o ser humano
Conrado Cotomácio
Carta para novos designers
Kathleen Repasche
Quais mudanças você quer ver no (seu) mundo de Design em 2022?
Danielle Kawasaki
Como NFTs vão revolucionar o Mundo
Odair Faléco
Quem tem medo da pesquisa qualitativa?
Bruna Alves Maia
Eu não sei
Emerson Niide
Criando a cultura de design remotamente e integrando time
Josias Oliveira
A derrocada do usuariocentrismo
Frederick van Amstel
Os desdobramentos da pessoa profissional UX Writer
Willian de Oliveira Magalhães
O futuro do design é sensorial
Juliana Franchin
Quando desistir não é um passo para trás
Marina Neta
Desenhistas de conteúdo num mundo híbrido
Gabriel Pêra
O que muda na perspectiva de uma profissional do design após a maternidade?
Caroline Kayatt
Metaverso: eu fui!
Roberto Rodrigues Júnior
Empatia, Compaixão Racional e Design Inclusivo
Denise Pilar
A jornada não é uma reta
Bruno Katekawa
Design nas organizações: a importância da definição de papéis
Bianca Galvão
Designers e a construção de repertórios diversos
Thayse Ferreira
Pensamentos sobre o papel do UX Designer dentro de uma equipe de jogos
Leandro Lima
Desafios do designer deste século
Rafael Coronel
Que tal ajudar a redesenhar experiências de aprendizado?
Daniel Lopes
Mentoria e planejamento de carreira como a alavanca para o próximo nível da área de UX
Agnes Reis
Design System, como escalar acessibilidade no seu produto digital
Maju Santos
Brandbooks deveriam abraçar novos hábitos e virar arquivos abertos
Guta Tolmasquim
Liderando líderes de design
Adri Quintas
4 oportunidades de crescer e ser mais produtivo como designer durante a pandemia
Thais Souza
Mad Max, os fundamentos e o futuro do Design
Keyle Barbosa
Cuide das pessoas ao seu redor
Edi Fortini
Content design, acessibilidade, design inclusivo e o saco vazio que não para em pé
Cecí Romera
Design camaleão: o poder da adaptação e a importância do contexto
Thaís Falabella Ricaldoni
Migrei para UX Writing. E agora?
Natasha Morello
Como o contexto de Pandemia nos ensinou a importância de ajudar ao próximo
Sérgio Silva
Não vejo problema no design brasileiro
Janaína de Siqueira Bernardino
não clique
]]]][[piol'''