Este período de pandemia me fez acreditar que não vejo problemas na experiência dos aplicativos, telas e outros dispositivos. Não vejo problema algum. O design melhorou bastante, não é mesmo? É tanta gente nova chegando no mercado, oportunidades de trabalho, cursos, quem diria que a profissão "patinho feio" ganharia destaque? Quando falei aos meus pais que faria design em 2000, foi um susto, "tipo o que é isso?" "Por que você não faz arquitetura que ganha bem?". Pra nossa sorte e estudo, o design virou um lindo Cisne e agora abre portas para muitos profissionais migrarem e se tornarem designers, UX, CX, experiência, pesquisa, serviços, negócios, e o que você quiser. Está tudo lindo.
E eu não vejo problema algum com tudo isso, desde que, a qualidade não se perca. E qualidade para quem? Para o usuário, ué!
Eu não vi problemas com botões que teimam em mudar de lado, como o cancelar o fechar, que hora está na direita, hora à esquerda.
Eu também não vi a tela colorida quase um carnaval, mas que deixa o usuário perdido sem saber se o botão verde é bom ou é ruim ou mesmo porque ele não tem texto que explica.
Eu nem ouvi dizer que nas telas agora tem um monte de ícones cheios de desenhos simplificados, mas que minha mãe não entende.
Também não vi aqueles carrinhos de compra ou formulários, que não te avisa quais documentos precisará preencher e na hora de pagar, tem que parar e quando volta, perde tudo que tinha preenchido, pois não tinha o botão de salvar.
Olha, eu também não vi janelas com intérpretes de libras por aí ajudando pessoas surdas, afinal, elas ocupam um grande espaço na tela e talvez na hora de refinar acabou saindo do backlog.
Algo super OK não é mesmo? Pra versão Beta, dá pra fazer sem e um dia colocar.Nem vi mais aquelas telas que tinham que entregar logo pra colocar no aplicativo, pois confiando no time ia sem testar mesmo e se desse ruim, arrumava lá na frente. Todo mundo que estava trabalhando já conhecem o cliente, para que testar tudo, né?
E para fechar, o que deixei de ver mesmo, foi a sincronia do time de design e desenvolvimento conversando com o marketing, vendendo o que de fato o cliente precisava e não o que a empresa queria vender. Ah, isso eu não vi mesmo.
Eu não vi mesmo, que digam as más línguas, mas eu não vi.Em 2020 deixei de ver, mas não deixei de consumir e usar a experiência. Eu não vi, mas usei tudo o que relatei acima, pois a qualidade não está lá essas coisas…Perdi a visão, mas ainda sou uma consumidora exigente, que gosta de qualidade e usabilidade. Acreditem, para quem não enxerga, isso está bem longe de acontecer. Além de não ver os botões, os textos e as imagens, eu também não ouço, quase que ganhei outra deficiência, por não ouvir, pois nada estava acessível no código.
Vamos voltar às origens? É o convite que faço aqui para voltarmos à origem do design universal inclusivo, acessível e para todos. Se você é designer recém-chegado ou já é maroto de estrada, que fez tela no Ilustrator e versões no ler com piso do Photoshop, meu amigo e amiga, vamos melhorar essa parada aqui. Está difícil para mim e quase 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, pois também querem usar o seu produto, mas você que está cuidando da experiência, está deixando de lado não somente a mim, mas a muitos outros amigos designers e consumidores. Se a tal empatia que vocês dizem por aí de fato existe, venha conversar comigo e com outras pessoas com deficiência e descubra um mundo de possibilidades.
E não acaba aqui, você acredita que o metaverso não vai ter tela? enfim, serão experiências faladas e tocadas virtualmente.
Então prepare-se porque você terá que repensar o seu trabalho. Se ele não funcionar na Alexa, já deixou de ser inovação e se deixou de funcionar por voz, já ficou no passado.
Bora olhar para o futuro? Aliás, afinal, você também vai envelhecer e lá na frente, nos encontraremos juntos. Bem-vindo ao futuro!
Atualmente compartilhando e ensinando sobre Acessibilidade Digital para Designers (UX, UI, Writers e service), Desenvolvedores (IOS, Android e web), POs, QAs, Scrum Masters e times de MKT. Participação em inovação de grandes produtos digitais de internet, aplicativos, tangíveis diversos, softwares de meios de pagamentos, plataformas, hotsites e campanhas interativas, atuando na estratégia, branding, conceitos criativos, UI e UX e guides digitais. Especialista em Design e Humanidades pela USP, passou pela Fundação Bradesco, agências de publicidade, ONG Sou da Paz, Itaú. Atuou como coordenadora de Design Digital dos apps vencedores do IF Design Awards 2018. (Premiação em Munique, Alemanha - fui como representante do Itaú. Vamos conversar? Te conto mais ;-) #filhonocurriculo 💛 Miguel Francisco 💛