Design 2022
Victor Augusto
Product Designer na Monis
Calmo, Dedicado, Detalhista, Pensador, Reflexivo

Precisamos parar de subestimar o Visual Design

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O design de experiência tem crescido muito já há um bom tempo e principalmente nos últimos anos, porém, ainda existe um mal entendimento sobre papel do(a) profissional de UI Design ou Visual Design no processo de construção de produtos e serviços digitais.

Introdução

Mais um ano que se passa e ainda precisamos discutir sobre a fronteira que existe entre UX e UI e a percepção que se tem hoje no mercado entre essas duas etapas da construção de um produto / serviço.

Ao meu ver ainda existe uma má percepção, tanto por pessoas de fora da área mas também entre profissionais que trabalham com Design sobre o papel do(a) profissional de UI / Visual Design. Talvez o próprio nome que normalmente usamos para designar essa disciplina (assim como estou fazendo aqui rs): User Interface Design (Design de Interface do Usuário) ou mesmo Visual Design, contribua em grande parte para esse preconceito de que se trata de uma disciplina dedicada a deixar um produto / serviço mais bonito e amigável.

Mas afinal, a estética importa?

A estética é sim um vetor que faz parte da disciplina de UI ou Visual Design, apesar desse clichê ser reducionista e responsável por esse mal entendido em muitas ocasiões. Boa parte das pessoas percebem a interface através da estética, mas nem precisamos ir muito longe para entender que isso em si já é uma meia verdade. Podemos usar como exemplo a interação que pessoas com deficiência visual (parcial ou total) têm com um serviço ou produto, nesse caso o profissional dessa área precisa considerar aspectos que permitam uma navegação eficiente e uma boa experiência que se traduza por meio da interface de alguma forma.

Não há nada de errado com o fato do UI Design / Visual Design ser (entre outras coisas) também estético, muito pelo contrário, pois a estética exerce um papel extremamente relevante na percepção de valor por parte de quem interage com uma interface. Apesar de ser difícil quantificar isso, existem estudos já feitos que contribuem com este ponto de vista neste sentido:

Um dos primeiros estudos foi feito por dois pesquisadores da Hitachi Design Center, Masaaki Kurosu e Kaori Kashimura, em 1995, para testar a percepção das pessoas diante de 26 variações de uma mesma interface para um ATM (Automatic Teller Machine), que para quem não sabe é um sigla para referenciar caixa eletrônico. Eles pediram aos 252 participantes do estudo que avaliassem cada projeto quanto à facilidade de uso, bem como ao apelo estético.

Resumindo, eles concluíram que os usuários são fortemente influenciados pela estética de qualquer interface, mesmo quando tentam avaliar a funcionalidade subjacente do sistema.

Neste artigo escrito por Kate Moran da NN Group ela trás mais detalhes sobre a importância da estética no design de interface, bem como um melhor contexto sobre o estudo citado anteriormente.

O efeito estético-usabilidade causa aos usuários a tendência de perceberem produtos atraentes como mais fáceis de usar. As pessoas tendem a acreditar que as coisas que parecem melhores funcionarão melhor — mesmo que não sejam realmente mais eficazes ou eficientes.

— Kate Moran, NN Group

Don Norman também, em seu livro, Emotional Design (Design Emocional) contribui para essa mesma perspectiva, onde explica o que leva as pessoas a perceberem valor ou não em um produtos e como isso está ligado com as nossas emoções.

“Tudo tem uma personalidade: tudo manda um sinal emocional. Mesmo quando essa não era a intenção do(a) designer, as pessoas que visualizam o site inferem personalidade e experiências emocionais.”

— Don Norman, Emotional Design: Why we love (or rate) everyday things

Um último estudo para contribuir com evidências a respeito desse mesmo assunto foi feito pela Universidade de Stanford, que conduziu um experimento com mais de 2.500 participantes sobre como as pessoas avaliam a credibilidade de um site. Os resultados comprovam a importância do design visual:

“Quase metade de todos os consumidores (ou 46,1%) no estudo avaliou a credibilidade dos sites com base em parte no apelo do design visual geral de um site, incluindo layout, tipografia, tamanho da fonte e esquemas de cores. (…) Um design gráfico bonito não salvará um site que funciona mal. Ainda assim, o estudo mostra uma ligação clara entre o design sólido e a credibilidade do site. ”

—  **Stanford Credibility Project

Ok, mas então o que UI / Visual Design tem de estratégico?

Para mim o conceito de estratégia é algo tão simples quanto uma forma organizada de planejar e executar algo buscando atingir determinado objetivo. Mas quem sou eu pra servir de validador sobre tal conceito, não é mesmo?! Sendo assim, vamos começar olhando como estratégia é definida na perspectiva de negócios por Michael Porter:

“Estratégia é a criação de uma posição única e valiosa, envolvendo um conjunto diferente de atividades.”

Michael Porter, professor de Harvard nas áreas de Administração e Economia

Trazendo isso para o nosso universo, é evidente o quanto o Design é essencial e o quanto contribui para uma proposta de valor única e valiosa, basta olhar para a importância que as maiores empresas do mundo dão para essa disciplina (Apple, Google, Spotfy, Nubank, Airbnb...).

Dito isso, apesar da importância das etapas de UX para mitigar riscos e contribuir para um maior entendimento do "O QUE" precisa ser feito e o "PORQUE" precisa ser feito, o  "COMO" deve ser feito é uma tarefa de maior responsabilidade do(a) profissional de UI Design / Visual Design.

Neste sentido, assim como o "O QUE" e o "POR QUE", o "COMO" não deixa de ser uma etapa estratégica fundamental. É justamente a parte que lida com a execução de todo o planejamento para torná-lo possível, ou seja, traduzir tudo que foi descoberto e pensado na melhor solução possível para o contexto em que está inserido(a). É também responsável por pensar toda a organização e otimização do seu próprio processo, bem como por construir artefatos capazes de criarem ligações coerentes entre si, quando pensamos também na esfera de um Sistema de Design, independente de seu tamanho ou nível de complexidade.

Não quero dizer com isso que sempre deva haver uma divisão total de UX para UI, acho que existem muitas intersecções entre essas duas disciplinas, e ambas podem e devem contribuir uma com a outra, porém, não há como negar que o nível de atuação de cada uma é diferente dentro de seus respectivos escopos.

Claro que o tipo de atuação de um profissional de UI Design / Visual Design vai depender muito do contexto em que está inserido, por exemplo se ele(a) estiver em um projeto com foco em melhorar a experiência em determinada esfera de um produto bem estabelecido, não parece fazer sentido elaborar todo um novo estudo de cores, com novas escalas tipográficas, um novo sistema de grid para atender algo que é tão pontual, pois entende-se que todas essas coisas estão definidas em um contexto como este, mas olhando do ponto de vista do escopo da disciplina de UI Design / Visual Design, existe um espectro mais abrangente que envolve desde aspectos de marca, fatores de usabilidade, questões de acessibilidade, padrões de uso, escalabilidade (dos sistemas da interface), até conhecimentos sobre princípios de design (como Heurísticas de Nielsen, Gestalt, Leis de UX, Cognitive Bias etc), guidelines e padrões de interface.

Isso tudo olhando sob uma perspectiva mais técnica e executora do papel de um(a) UI Designer / Visual Designer, mas é importante ressaltar que faz parte também ter um pleno entendimento sobre o que se pretende fazer antes de tudo e com isso quero fazer referência a etapa de descoberta, que pode envolver desde um mero entendimento de um briefing e dos outcomes a cerca de um determinado produto, usuário, negócio, enfim... até a realização de benchmarks, arquitetura de informação, teste de usabilidade e daí por diante...

Tudo isso, na minha visão faz parte do escopo de um(a) profissional de UI Design / Visual Design e cada um desses exemplos citados são em si um universo à parte com diferentes níveis de complexidade entre eles. Dificilmente alguém dessa área vai saber tudo sobre todas essas coisas, mas o intuito também não é afirmar que isso deva ocorrer ou mesmo ser uma meta, mas sim demonstrar, mesmo que resumidamente, o quão complexo é ou pode ser essa especialidade, assim como, o quanto ela contribui em termos estratégicos para a construção de bons produtos e serviços digitais.

Conclusão

Definitivamente UI Design / Visual Design não se trata de um experimento conceitual com o propósito de exercitar nada além da a criatividade sem que precise resolver qualquer tipo de problema.

Eu arrisco dizer que se trata de uma disciplina tão complexa pois exige desde conhecimentos, mesmo que mínimos, de esferas macro que lidam com o "O QUE" e o "PORQUE" até conhecimentos avançados sobre esferas micro que lidam com o "COMO".

Referências

What is Emotional Design?

The Role of Visual Design in User Experience | Adobe XD Ideas

Myth #25: Aesthetics are not important if you have good usability - UX Myths

The Aesthetic-Usability Effect

How to Test Visual Design

Strategy Explained

Aesthetic, Visual Design & Usability

The Top 10 Best Biases - by Peter Gasston

Desirability, Feasibility, Viability: The Sweet Spot for Innovation

Emotional Design (2 min. video w. Don Norman) (Video)

Aesthetic-Usability Effect | Laws of UX

Home | Laws of UX

O visual do seu produto importa tanto quanto todo o resto

Victor Augusto

Um ser humano qualquer apaixonado por Design e amante / apreciador de praticamente tudo que envolve arte, principalmente música.

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