De 2020 para 2021, empresas tiveram o desafio de adaptar a cultura do trabalho presencial para o trabalho remoto e aprender novos processos de colaboração. Se você trabalha em um escritório como designer de produtos digitais, deve estar familiarizado com o trabalho colaborativo entre times de várias expertises e não apenas pela colaboração entre designers. Alguns times podem ter uma cultura colaborativa com processos de design bem definidos, enquanto outros ainda estão no processo de estabelecer essa cultura ou ainda trabalham separadamente.
Se a cultura do seu time ainda não está onde você gostaria que esteja, o que você pode fazer como designer para ajudar o seu time a chegar lá em 2022 e beneficiar não apenas o seu trabalho mas o trabalho de toda a equipe?
Aqui vão algumas ideias:
Times tem produtos em diferentes estágios de desenvolvimento. Alguns produtos estão começando, alguns estão estabelecidos no mercado, e outros ainda não existem. Nāo importa a fase, o débito de UX pode estar presente, ser identificado, e resolvido.
O que é débito em UX design? De acordo com Anna Kaley, UX especialista na Nielsen Norman Group, projetos que priorizam as datas de entrega com soluções rápidas e não focam na experiência do usuário acumulam débito em UX design. Isso ocorre quando o time pula testes com usuários (e portanto, causando experiências possivelmente frustrantes com o produto), não tem um design system estabelecido (causando possíveis inconsistências na implementação do produto), e dificuldades em documentar o processo de design (causando problemas na comunicação com o time).
Particularmente a documentação durante o projeto e pós projeto é importante para o alinhamento entre membros do mesmo time e para a comunicação com outros times de diferentes expertises. Além disso, é frequente que projetos sejam separados por versões de um produto: do MVP (Produto Mínimo Viável), para a versão 1, versão 2, e assim por diante. Essa documentação também pode ajudar no onboarding de futuros designers que possam entrar no time e precisam entender o histórico do projeto — o que já foi feito, processos usados, resultados, etc.
Para resolver esse débito em UX, é preciso identificar o que está faltando no processo de design, o que precisa mudar, e priorizar essas mudanças. Essa iniciativa pode começar de uma necessidade do time de design e expandir para outros stakeholders. A identificação de oportunidades de mudanças pode ser feita de diversas maneiras:
Depois de identificar as oportunidades de mudança, a priorização pode ser feita em etapas: liste os problemas identificados e decida em conjunto a ordem em qual o time irá solucionar esses problemas. A decisão pode ser baseada na frequência que os problemas ocorrem, quantidade de recursos, complexidade, e urgência. Em seguida, adicione esses projetos no backlog para que o projeto não se perca no passado: isso ajuda ao time a planejar, priorizar, e alocar recursos.
Os benefícios são inúmeros: quanto melhor fica o processo de design, melhor será o alinhamento e comunicação entre times e mais tempo disponível para pesquisa, design, e testes de usabilidade do produto antes da entrega.
Não é apenas o gerente do produto que deve trabalhar pra construir boas relações profissionais no time. É trabalho de todos. — Tanner Christensen, Head of Design at Gem.
Nāo importa o estágio do produto, pode ser que você trabalhe com um time de designers ou ser um time de um. Na minha experiência de trabalho com diversos times, eu identifiquei duas maneiras de melhorar o alinhamento entre times de designers e entre designers com outros times.
No caso de você trabalhar como designer solo e tiver um gerente de produto e engenheiros de software/hardware no time, ajude a estabelecer uma metodologia de comunicação e colaboração entre esses três times. É importante que esses três pilares (design, gerenciamento do produto, e engenharia) estejam na mesma página do projeto e saibam qual é a timeline e quais são os objetivos e requisitos do projeto, pois esse alinhamento ajuda a evitar confusão do que está sendo desenvolvido e ajuda na comunicação do time com outros stakeholders. Isso permite que qualquer membro do time possa responder perguntas sobre o projeto ou indicar a(s) pessoa(s) que saiba(m) as respostas.
No caso de você ter um time de design e trabalhar com outros designers em um projeto, é importante que o alinhamento entre os designers aconteça antes da comunicação com outros stakeholders, sejam eles os gerentes de projetos ou engenheiros. Dessa forma, o time de design pode identificar quais são os problemas a serem resolvidos, os recursos que precisam, e definir uma timeline realística para o projeto para os stakeholders.
Além disso, podem ocorrer situações em que o time de design precise trabalhar juntos para resolver problemas internos. Um caso é não ter um design system e portanto, um processo complicado de compartilhar designs entre o time. Identificar esse problema e trabalhar juntos em uma solução não precisa ter todos os stakeholders envolvidos na primeira instância do projeto, mas é importante comunicar o porquê esse projeto é importante antes de qualquer iniciativa.
Consequentemente, o resultado desse trabalho interno impacta positivamente outros times, pois um design system organiza design assets e ajuda na entrega de designs para os engenheiros. Além disso, designers gastariam menos tempo procurando por arquivos de design.
E no final do projeto, designers são responsáveis pelos produtos que ajudaram a desenvolver. O objetivo de um UX designer é trazer uma boa experiência do usuário para todas as pessoas que usam os produtos, incluindo pessoas com deficiências. Se o produto falha nesse requisito (sim, um requisito de inclusão), isso afeta o mundo dessas pessoas com deficiências e você, como designer, limita o acesso ao produto que você ajudou a criar.
Como designer, você deve ser responsável por incluir todos os possíveis cenários e comunicar a importância de resolver esse problema de inclusão. Mike Monteiro, designer americano e autor do livro "The Collected Angers", acredita que é essencial que o designer entenda o impacto que o produto causa na vida das pessoas e que consiga comunicar a importância desse impacto para outros membros do time e para a empresa:
Nós estamos resolvendo um problema porque acreditamos que é um problema que precisa ser resolvido e que vale a pena ser resolvido. (…) Nós trabalhamos para as pessoas afetadas por esse problema. E o nosso trabalho é incluir essas pessoas na mesa.
Ser designer significa saber porque o produto existe e para quem ele existe. Em 2022, quais são os passos que você pode dar para impactar a cultura do seu time e empresa? Eu acredito que grandes mudanças podem ser feitas em pequenos passos.
UX Debt: How to Identify, Prioritize, and Resolve
Sou designer de produtos com experiência em fintech, video streaming, and biotech. Ser ciclista é meu estilo de vida e adoro fazer sobremesas. Sou cuiabana atualmente morando em São Francisco, California.