“Que soluças tu,Transido de frio,Sapo-cururuDa beira do rio...”
Há um século atrás, “coaxando” no palco do Teatro Municipal de São Paulo, um grupo de intelectuais e artistas irreverentes clamou por uma arte mais brasileira, original e independente, que refletisse nossos problemas e virtudes. Foi naqueles três dias da famosa “Semana de 22’ que o Modernismo atracou de vez nas terras tupiniquins para ruminar, assimilar, deglutir e transfigurar a cultura, principalmente a europeia, e criar nossa arte nacional.
Essa verdadeira virada cultural influenciou incontáveis manifestos e movimentos chegando até nos versos da Tropicália. Expressamos o nosso melhor, em busca de uma identidade cultural brasileira, sem a alienação de ignorar os valores estéticos estrangeiros. Só um povo mestiço sabe a delícia de comer lasanha com churrasco e sushi e servir a feijoada.
Entrando em 2022, ano 468 da deglutição do Bispo Sardinha, vejo com alegria os profissionais de UX brasileiros iniciando seus passos antropofágicos. Estamos deglutindo autores e conceitos do lado de cima do Equador em busca de um sotaque brasileiro para a prática de UX Design. Com muita criatividade e pouca grana, os designers brasileiros sempre deram nó em pingo d’água. Então, por que não ensinar e compartilhar o nosso jeito de fazer?
Sabemos que a produção acadêmica brasileira é vasta, reconhecida e citada. Estava mais do que na hora dos profissionais de UX também fazerem suas contribuições. Muitos colegas já têm o hábito de registrar seus “Veja bem...” em textos no Medium. Mas as mensagens nas redes sociais nos enchem de alegria e preguiça. Quem lê tanto post
Precisamos do manifesto e também da ação. Provocar o problema e ajudar na solução. Há uma multidão de novos mutantes querendo entrar no fascinante mundo do design da experiência do usuário e necessitam de base, estrutura e referências, de arroz com feijão.
Como os modernistas, temos que registrar nossa arte, nosso jeito de fazer. Revelar o nosso tácito, juntar às teorias a nossa sabedoria cabocla. UX Designers brasileiros, chegou a hora de realizar a UX do Brasil.
Sei que muitos colegas aqui têm vontade e capacidade de escrever e publicar. Nesse momento que estou lançando meu livro, convido-os a escreverem os seus. É uma jornada longa, cansativa e com muitas pedras no meio do caminho. Como numa maratona, é preciso encontrar seu próprio tempo, ritmo e perseverança. Mas, vale muito a pena porque compartilhar nossos aprendizados, além de necessário nesse momento, é infinitamente gratificante. E, acredite, nossa comunidade nos acolherá com carinho e euforia.
E aí? O que acha de escrever, publicar, registrar e compartilhar nossa arte? Vamos! Essa é a hora! Vocês vão ficar ocupados na sala de jantar em Pasárgada ou cantarão suas belas canções iluminadas de sol?
Guilhermo Reis trabalha na área há mais de 20 anos, projetando e liderando times de UX em grandes empresas como a Claro - Now Online, o Globoplay, a Catho e o Banco Real. Tem mais de 10 anos como professor de UX, dando aulas em cursos de pós-graduação e oficinas. Já ajudou a formar muitos bons profissionais do mercado. Também é autor do livro recém lançado Fundamentos de UX: conceitos e boas práticas.